quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estudo dos impactos ambientais gerados pela intervenção humana nos rios Tietê e Pinheiros ao longo dos anos.

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Ao longo de sua história, a humanidade tem se mostrado habilidosa na arte de criar, transformar e modificar. Modifica tudo de acordo com os seus interesses. Hoje, a necessidade de adaptação do homem ao mundo provoca uma inversão de valores entre os mesmos, provocada pela persistência (ou talvez teimosia) do homem em suas idéias de evolução e prosperidade. Ao invés de o ser se adaptar ao meio, como ocorre segundo Darwin, com qualquer outra espécie, o homem consegue sim ter a ousadia, ou petulância, de adaptar o meio a si mesmo, segundo suas necessidades. Isso, claro, gera conseqüências ao meio-ambiente que, não acostumado a tais idéias humanas, tem seu ecossistema prejudicado por tais intervenções.
A intenção do texto a seguir é atentar para uma dessas intervenções e mostrar quais as conseqüência práticas que ela tem gerado ao meio-ambiente ao longo da história e até hoje, projetando quem sabe possíveis impactos futuros que virão para agravar ainda mais a situação de degradação da região e dos que nela vivem.
No tocante a retificação dos rios Tietê e Pinheiros, podemos tirar diversas conclusões, pois a clareza com que os fatos podem ser analisados não poderia ser maior. Não só pelos diversos estudos a respeito da retificação, feitos por grandes estudiosos como Odette Seabra, mas também pelo fato das intervenções, e suas conseqüências ambientais, serem visíveis por todos aqueles que passam no local em questão.
Para fazer essa análise de maneira mais aprofundada, observaremos a produção social da cidade de São Paulo em fins do século XIX, com atenção ao crescimento de atividades humanas associadas ao complexo cafeeiro como gênese da problemática em questão, bem como a degradação das águas na Região Metropolitana de São Paulo a partir da década de 1950 e a apropriação da terra na região relacionada à concentração industrial, além de analisar o saneamento básico na região já em meados dos anos 90.


Impactos ambientais sobre os rios Tietê e Pinheiros.

A degradação das águas dos rios e seus afluentes está relacionada às atividades humanas que se intensificaram na região, principalmente após o final do século XIX. O final deste século, no Estado de São Paulo, foi marcado pelo crescimento do complexo cafeeiro. Impulsionados pelo café, desenvolveram-se bancos, estradas de ferro, eletricidade, comércio, indústria e diversos serviços urbanos. As atividades urbanas, neste contexto, eram não somente necessárias à reprodução da economia como também resultado das modificações na estrutura produtiva.
No município de São Paulo, a expansão da atividade cafeeira e de atividades a ela relacionadas – comércio, indústrias, serviços – promoveu modificações no uso do território, ou seja, resultou em alterações na formação do espaço. Se por um lado, houve alteração do uso do território resultando em crescimento econômico, por outro lado, houve transformações no território decorrentes das atividades desenvolvidas que resultaram em degradação da qualidade da água dos rios da cidade de São Paulo.
Conclui-se então que a urbanização de uma maneira geral é a principal responsável pelos impactos ambientais sobre os rios Tietê desde o final do século XIX.



Eis alguns exemplos:

-Em 1873, as ruas de São Paulo receberam os primeiros paralelepípedos, o que representou início da impermeabilização do solo que contribuiu para a modificação do fluxo das águas, gerando excessivo escoamento em direção aos rios metropolitanos.
-No final do século XIX inicia-se a criação de gado e suínos nas várzeas dos rios, o que representa o início da poluição direta de suas águas, gerando contaminação através de fezes e resíduos alimentícios dos animais.
-No início do século XX o rio Tietê começa a receber sistematicamente resíduos industriais e esgoto sem tratamento em suas águas. É uma poluição direta e constante.

A década de 1930 desponta com transformações no cenário econômico do país, geradas a partir da crise de 1929. Neste cenário, a indústria representou papel central, com diversificados ramos de atividade industrial e importância crescente do setor de bens de produção. A concentração da indústria no município de São Paulo e em municípios vizinhos promoveu, por um lado, o crescimento econômico pela produção industrial. Mas, por outro lado, os problemas de poluição que já eram observados no rio Tietê e em seus afluentes aumentaram com o lançamento de maior volume de esgotos industriais nestes rios, resultando em perda ainda maior de qualidade das águas. Esta situação foi agravada em 1955, quando ocorreu a interligação da rede de esgotos de São Paulo, trazendo os dejetos de toda a indústria paulista para o rio Tietê.
Entre os anos 1950 e 1960, associada à retificação dos rios Tietê e Pinheiros, há apropriação de terras das várzeas destes rios. A retificação do rio Pinheiros, concluída em resultou em aproximadamente 25 milhões de m2 de terras apropriadas da sua várzea e utilizadas para outros usos que não o de expansão das águas nas cheias. No caso dos rios Tietê e Pinheiros, a degradação está relacionada ao desmatamento, à eliminação da vegetação ciliar e à impermeabilização do solo e dos meandros dos rios que contribuem para o assoreamento dos mesmos e acirramento das inundações. Além disso, as alterações no ambiente decorrentes dos arruamentos e canalizações alteram o fluxo das águas, resultando em modificações no relevo. Concomitante ao processo de degradação, há a valorização das terras de várzeas e de suas imediações.
Já nos anos 80, nos loteamentos irregulares, favelas, cortiços e habitações precárias nota-se ausência de coleta de esgotos, o que causa problemas de saúde para a população residente nestes tipos de habitações. Para a degradação da água, a ausência de coleta de esgotos constitui uma forma de poluição direta dos córregos e rios. O que não significa que as habitações que têm coleta de esgotos não estejam contribuindo com a degradação das águas, já que o fato de os esgotos serem coletados não significa que sejam tratados. Essa situação é confirmada se analisarmos que, em 1987, verifica-se a localização de 49 % do total de favelas do município de São Paulo junto a córregos, com poluição direta dos mesmos e, em 1990 observa-se que 56 % da população do município de São Paulo em cortiços, favelas e habitações precárias sendo que esses locais não possuíam condições adequadas de saneamento.


A questão do saneamento e o projeto Tietê.

A década de 1990 trouxe alterações no enfoque dado à questão das águas na Região Metropolitana de São Paulo com repercussões diretas nas questões relacionadas a degradação das águas da região. Estas mudanças podem ser observadas na proposta e implementação do Programa de Despoluição do Rio Tietê – conhecido também como Projeto Tietê – anunciado pelo Governo do Estado de São Paulo como um projeto ambiental, em janeiro de 1992.
O Projeto Tietê foi apresentado como um conjunto de ações – tratamento de esgotos, recuperação dos recursos hídricos, disposição do lodo e combate à erosão no leito do rio – a serem implementadas no rio Tietê e em seu afluente Cabuçu de Cima, na Região Metropolitana de São Paulo, durante um período de quinze anos, com objetivo de despoluição do rio. O objetivo do Projeto Tietê mostra alterações que vêm sendo promovidas na forma de apresentação das questões das águas na região. Nesse caso, os problemas de poluição do rio Tietê passaram a ser considerados enquanto problemas ambientais, que exigem ações integradas para serem solucionados.