segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Do feudalismo ao capitalismo.

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A transição do feudalismo ao capitalismo ocorre de maneira levemente distinta de país para país, mas alguns fatores são cruciais e preparam tal fenômeno. Esse estudo histórico nos levará a importantes conclusões sobre a gênese do capitalismo, precursor das relações humanas do mundo moderno e contemporâneo.
Elementos contrários a propriedade limitada da terra e sobre as pessoas preparam a destruição do circuito que determina o modo de produção feudal. As trocas exteriores, a circulação monetária, a propriedade absoluta e o aumento de homens livres são fenômenos inerentes a esse processo. Mas, a passagem decisiva ocorre somente quando revoluções políticas sancionam juridicamente a estrutura e novas classes dominam o estado.
Não se pode falar em burguesia ou capitalismo quando não se trata da sociedade moderna, pois antes dos mesmos, os personagens do comércio nunca dominaram a produção social de sua época, assegurada pelos escravos em Roma e pela servidão dos camponeses na Idade Média.
Entre os séculos IV e X, o modo de produção feudal se implanta num contexto econômico totalmente rural. Somente a partir do século XI se generalizou o grande comércio, com o crescimento da produção destinada ao mercado e origem da oposição cidade-campo. Ocorre nesse contexto o crescimento das chamadas cidades livres, com habitantes participantes da organização coletiva do local. Esse cenário porém não modifica as relações da grande maioria da população, que continua sendo camponesa. No interior das cidades os nobres, mercadores e artesãos disputam o poder municipal.
Nos séculos XIV e XV o feudalismo mergulha realmente e sua crise, com o crescimento da burguesia que se enriquece, adquire terras feudais e vivem como os senhores, cercados de um luxo que é mais aparência do que realidade. No interior das comunidades, as lutas de classes se agravam. Com a conquista do Oriente pelos turcos, as cidades entram em decadência. Essa crise é a primeira etapa da formação do capitalismo, com o avanço das forças produtivas em meados dos séculos XV e XVI.
Ao longo da crise no feudalismo, ocorre um incrível avanço das forças produtivas, com um tempo de invenções como nunca se viu na história. Foram inventados ou aprimorados nessa época o forno para a produção de metal, a imprensa, entre outros. Pela primeira vez as técnicas industriais ultrapassam, em número, as agrícolas, com crescimento das indústrias e do comércio gerando portanto o êxodo rural. Desenvolvem-se também as navegações e o comércio internacional de produtos exóticos. Constituem-se assim grandes estados, em uma nova era para o capital mercantil, afetando todo o sistema produtivo europeu.
Segundo Marx, a origem do capital burguês, necessário para o início de uma produção, se dá através da acumulação primitiva de capital, que ocorre graças às crises, desequilíbrios e violências que marcam o fim do regime feudal. Essa acumulação decorre da expropriação agrária e proletarização das massas rurais, além dos saques e exploração colonial. Expropriação-proletarização caracterizam a acumulação primitiva no estado puro, quando através da violência legalizada, há a separação entre o produtor e seus meios de produção. Já os saques e a exploração colonial se dão por meio da colonização européia em escala mundial. Os colonizadores sacavam os índios e povos das colônias. Além disso a extração de ouro e prata gera uma alta incrível nos preços dos produtos europeus na chamada “revolução dos preços”, evoluindo rapidamente para um mercado mundial com tendência a um igualdade de preços. No início, com a acumulação primitiva, ocorrem alta nos preços, grandes empréstimos e aumento de impostos, mas com o tempo há uma tendência a uma queda nas taxas de juros e consequentemente nos lucros. É nesse cenário que o sistema torna-se universal, chegando aos poderosos homens de dinheiro, que vêem a necessidade de tomar o controle da produção.
Nos séculos XVII e XVIII, ocorrem as etapas finais dessa transformação. O artesanato corporativo dá lugar às manufaturas, que absorvem o excesso de mão de obra no campo e representam assim a separação entre o produtor e o meio de produção pela primeira vez na história, organiza a divisão do trabalho e aumenta a produção do trabalho individual. Os estados passam a agir e cobrar impostos em favor das manufaturas, priorizando a elite industrial, bem como os próprios estados numa busca incessante pelo lucro, além disso cria medidas protecionistas através dos atos de navegação beneficiando a acumulação primitiva necessária para essas classes. Por fim, no século XVIII, ocorre a definitiva consolidação do capitalismo. A manufatura dá lugar a maquinofatura, que aumenta a produtividade do trabalho humano e economiza tempo, com mecanismos cada vez mais baratos, usa-se a metalurgia, a máquina a vapor, o trabalho humano é incessantemente explorado e as condições de trabalho precárias com um salário mínimo de subsistência. Ocorre portanto, com a revolução industrial, não só a consolidação do sistema econômico capitalista, mas também a de um regime social, de direitos, instituições e formas de pensamento característicos. Esse novo regime social gera a luta entre as novas e antigas classes, que fazem parte do sistema em decadência. Vencida essa luta, o novo sistema torna-se soberano e, através da revolução -nesse caso burguesa-, se estabelece definitivamente.