segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Marx e Comte: Idéias opostas com uma mesma origem.
















A princípio, nós, homens e mulheres do século vinte e um, temos por filosofia a desconsideração da possibilidade de se relacionarem dois tipos de pensamento ditos opostos, dados os seus princípios aparentemente diferentes em todos os aspectos. Meu desafio é provar que correntes de pensamento convencionalmente opostas no modo de analisar nossas relações sociais, políticas, econômicas e até mesmo cotidianas podem ter fatores comuns e compartilharem de linhas de raciocínio que, apesar de nos levarem a objetivos diferentes, possuem um mesmo cerne.
Para tal, no caso dessa produção, mostraremos dois autores de incontestável reconhecimento, Auguste Comte com sua conhecida concepção de história e Karl Marx com sua teoria social. Aparentemente, seria complicado fazer uma relação desse tipo, mas é possível perceber que cada um deles, com sua respectiva corrente filosófica, é capaz de apontar fatores comuns de pensamento e análise, além de poderem se relacionar de maneira ainda mais interessante, onde uma teoria ajuda a explicar e entender a outra, e esse é um tipo de relação para ser cuidadosamente observada, pois muitas vezes as oposições nos levam a uma melhor compreensão dos fatos. Serão, portanto analisadas tanto as semelhanças quanto às divergências.
Comte trabalhou intensamente na criação de uma filosofia positiva, onde o objeto explica, ou define, o sujeito, com uma concepção de mundo não-teológica e não-metafisica, propondo uma interpretação pura e plenamente humana para a sociedade e sugerindo soluções para os problemas sociais, eis aí uma grande semelhança com a corrente filosófica Marxista que, mesmo englobando outro ponto de vista, porque visa uma relação mútua e constante entre sujeito e objeto para interpretar os fatos, possui uma teoria social que faz essa análise humana da sociedade.
A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos e torna-se pesquisa de suas leis, vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis. Dessa forma, a previsão científica caracteriza a história no pensamento positivo.
Observemos imparcialmente a lógica do pensamento marxista. Suas relações no modo de produção podem ser consideradas totalmente lógicas e pré-estabelecidas por algumas conjunturas. Uma das visões possíveis do Modo de produção descrito por Marx seria a de um capitalismo com estruturas fixas, como a da propriedade, que rege este sistema. Seria como um clã de proprietários que, por deterem os meios, podem ter o privilégio de explorar a mão-de-obra de quem não o tem, conseguindo dessa forma altas lucratividades em favor de si, sem despender mão-de-obra própria e dependendo do trabalho alheio, sendo assim constituintes de uma classe social dominante e exploradora, muito bem definida e que representa uma minoria detentora do lucro e da renda. Pode-se chegar então a conclusão de que esse modo de pensar, no que se refere a propriedade, se baseia numa lógica positivista, pois claramente estabelece uma lei, onde o detentor do meio explora o trabalho daquele que vende sua mão de obra. A discussão aqui não leva em conta a veracidade dessa análise da produção, mas sim a lógica formal como ela foi definida, uma lógica “Comteana”: "ver para prever, a fim de prover".
Por outro lado, se observarmos a visão positiva de Comte, podemos perceber que, no tocante à desconsideração das causas dos fenômenos, existe um fator de forte oposição à filosofia Marxista, já que o mesmo cita a estrutura do Modo de produção como ponto que define a forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, sendo portanto a causa de fenômenos como a mais-valia por exemplo, que é a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, sendo ela a base da exploração no sistema capitalista, mas esse é apenas um entre vários exemplos que poderiam ser citados para elucidar tal fenômeno.
Indo de encontro à clássica doutrina positivista, e nesse caso fazendo uma análise mais genérica da corrente filosófica em si e não tão específica de Comte, encontramos uma terceira linha de pensamento, talvez a de maior conseqüência, e que nos mostra que "da mesma maneira que as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas, sociais ou outras , as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica". Ou seja: o positivismo "afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo", pois este conjunto de opções são prejuízos e preconceitos que prejudicam a objetividade das Ciências Sociais". Entretanto, o marxismo dá um passo a mais: o conhecimento da realidade social é um instrumento político que pode orientar os grupos sociais na luta pela transformação da sociedade. É no terreno da prática que se deve demonstrar a verdade da teoria.
Na verdade, e agora é o autor quem diz, há pontos positivos e negativos em cada uma das idéias. Os sistemas são definidos pelo meio, pois aquele que não possui no local onde vive os pré-requisitos naturais para determinada atividade, obviamente fará uma adaptação ao local onde se encontra, já que nem sempre a migração é possível. Por exemplo, não é possível criar uma lavoura de café na região metropolitana de São Paulo e assim os paulistanos devem se adaptar ao sistema de trabalho urbano desse local. Numa lógica de certa forma determinista, é o objeto, no caso o local, definindo a atividade humana. Fato é que esse jamais pode ser o único fator a ser observado nessa análise, pois o modo de produção humano é algo muito mais complexo. O posicionamento filosófico no campo da geografia é necessário e imprescindível, mas o fanatismo e principalmente a intolerância a outras idéias gera um geógrafo de visão restrita, ineficaz no que se refere à discussão acadêmica de idéias. Sem dúvida, existe uma forte influência tanto de Comte quanto de Marx na geografia contemporânea e é essa a marca da atualidade, uma geografia de várias idéias, onde se aproveita cada conceito e se dá valor a todos os modos de pensar.